domingo, 9 de setembro de 2012

Eu simpatizo com trabalho bem feito

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Depois que comecei a cobrir jogos (para quem não sabe, faço um freelancer na área de narração esportiva), passei a me flagar tendo algumas torcidas enrustidas por alguns times. Na realidade não por times, mas sim por algumas fases de clubes - por time todo mundo sabe quais clubes eu torço, por quais eu tenho simpatia e quais os dois clubes que eu não aguento ver na frente. É uma relação estranha, mas que passa basicamente por um único ponto: o trabalho. 
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Como eu não tenho muito o que torcer para a imensa maioria dos times, gosto de analisar a situação (ainda que empiricamente, na minha própria mente) de cada um deles. A diretoria, o técnico, o grupo de jogadores... essas banalidades que poucos dão importância. E percebo que existem trabalhos muitos bem feitos Brasil afora. Esses trabalhos contam com o meu apoio e, porque não, tem minha torcida para que durem e sirvam de exemplo.
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O exemplo mais clássico de trabalho bem feito no futebol brasileiro para mim, hoje, está em Campinas. Gilson Kleina e a sua Ponte Preta me conquistaram duma forma que eu não sei explicar. Acho formidável o que o técnico fez com a Macaca: transformou um grupo bem mais ou menos com um ou outro destaque em um time. Mais, muito mais: um time encaixado, com padrão de jogo e com muita vontade, dificílimo de ser batido. Edson Bastos é um goleiraço; Cicinho é um lateral-direito que talvez não se encontre mais no futebol brasileiro, Diego Sacoman, Ferron e Thiago Alves tem muitas qualidades; Baraka chegou do Mogi-Mirim e mostra um futebol que me agrada demais; Marcinho costuma dar trabalho; Roger é o eterno homem-gol pontepretano; Giancarlo é um grande centroavante reserva; Rildo e Luan compõem muito bem os flancos ofensivamente. Gilson Kleina tem um elenco bom montado por ele e, mais do que isso, tem esse elenco na mão. É um excelente projeto - que já dá resultados surpreendentes.
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Trabalho não de técnico, mas de diretoria, encontra-se no sul do país. Mais precisamente, no Alto da Glória. Desde a chegada da diretoria do atual presidente Vilson Ribeiro o Coxa tem uma cara: contratar técnicos que gostem de trabalhar com jogadores jovens. Foi assim que Ney Franco reconduziu a equipe para a primeira divisão nacional após pegar uma equipe em frangalhos, foi assim que Marcelo Oliveira levou o Coxa a duas finais seguidas de Copa do Brasil e foi assim que a diretoria, ao demitir Marcelo, chegou ao nome do "desconhecido" Marquinhos Santos. Desconhecido para nós, mas a diretoria coxa-branca sabia muito bem aonda está pisando: Marquinhos era o técnico da seleção brasileira sub-17 - ou seja, ele sabe trabalhar com jovens. Hoje, os paranaenses desceram 3x0 no Flamengo, que é a antítese das equipes que falarei aqui: é desorganizado, desarrumado, não tem projeto nenhum, é uma equipe sem garra e sem brio e que não faria muita falta no Brasileirão do ano que vem se for pra fazer esse papel vergonhoso que vem fazendo nesse ano - tanto dentro quanto fora de campo.
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Com toda a pompa e todo o nome aparece também o Corinthians, que jogou hoje. A atual situação política do time, com Mário Gobbi na presidência sucedendo seu "padrinho" Andrés Sanchez, explica o bom momento da equipe. Tite foi eliminado pelo Tolima na Libertadores passada e pela Ponte Preta no Paulistão desse ano. A diretoria confiou no técnico quando nenhum corinthiano aguentava mais o gaúcho. Resultado: um Brasileirão e uma Libertadores da América - sonho de consumo da equipe alvinegra. Óbvio que não torço para o Corinthians, mas reconheço todo o trabalho feito pelo técnico e pela diretoria na manutenção desse trabalho tão bem tocado, e o trabalho pode ser medido pelos incríveis resultados que a equipe vem conquistando. 
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Falei apenas de times que jogaram hoje, mas faço duas ressalvas para equipes que ainda não atuaram: o Náutico tornou-se um time de refugos muito bem organizado e praticamente imbatível nos Aflitos; e a Portuguesa de Geninho ganhou uma cara nova, bem diferente do time rebaixado no Paulistão. Com atacantes (Araújo e Kieza; Bruno Mineiro e Ananias) muito bons, volantes (Souza, Elicarlos, Martinez; Léo Silva, Moisés, Boquita) que chegam muito bem à frente, laterais (Lúcio, Patric; Luis Ricardo, Marcelo Cordeiro, Rai) de alguma qualidade e zagueiros (Ronaldo Alves; Gustavo, Rogério) minimamente competentes, essas equipes saíram do limbo e sonham hoje com vagas na Copa Sul-Americana - sonho bem palpável e possível, diga-se. No caso da Lusa, temos ainda o pentacampeão mundial Dida, toque de experiência no go, rubro-verde e com muita qualidade apesar de sua idade avançada.
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Também são muito bons os trabalhos de Atlético Mineiro e Fluminense, mas não falo desses pois tais equipes tem muito mais visibilidade e dinheiro que as que mais me fascinam no momento - com a óbvia exceção do Corinthians.
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Não falei de nenhum craque nesse texto. Talvez seja execrado por elevar tanto jogadores de nível técnico tão discutível - e eu tenho ciência disso. O texto apenas mostra que não é tão difícil quanto se pensa montar um time de verdade com um elenco apenas mediado. E, claro, a minha constatação óbvia: alguns nomes precisam parar de ser achincalhados por aí.
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